Partilha

🦉 Família Strigidae – Guardiãs da Noite

Quando a noite desce sobre o campo e o murmúrio do vento se mistura com o farfalhar das folhas, um som profundo ecoa ao longe — o chamamento de uma coruja. É o sussurro da Família Strigidae, as chamadas “corujas verdadeiras”, aves que há milénios inspiram mistério, sabedoria e um leve temor. Sentinelas das sombras, elas observam, caçam e sobrevivem em silêncio, guiadas por sentidos apurados e uma serenidade quase ancestral.

As corujas inspiraram mitos, lendas e superstições em todas as culturas. Símbolo de sabedoria, mistério e introspeção, são ao mesmo tempo temidas e veneradas. Neste post, vamos conhecer quatro representantes marcantes desta família: a Coruja-das-neves, o imponente Bufo-real, o delicado Mocho-pequeno-d’orelhas e o observador Mocho-galego.


🧬 Classificação científica

  • Reino: Animalia
  • Filo: Chordata
  • Classe: Aves
  • Ordem: Strigiformes
  • Família: Strigidae
  • Espécies em foco: Bubo scandiacus (Coruja-das-neves), Bubo bubo hispanus (Bufo-real), Otus scops (Mocho-pequeno-d’orelhas), Athene noctua (Mocho-galego)

Bubo scandiacus – A Coruja-das-neves, Rainha do Ártico

A Coruja-das-neves é uma das aves mais icónicas do hemisfério norte. Com a sua plumagem branca e olhos dourados, é uma verdadeira rainha das tundras geladas. Esta espécie adapta-se aos climas extremos do Ártico, onde caça principalmente lemmings e roedores.

O seu voo é silencioso e majestoso, e o branco das penas oferece camuflagem perfeita contra a neve. Durante o inverno, algumas migram para latitudes mais temperadas, sendo ocasionalmente vistas na Europa.

Coruja-das-neves – beleza e silêncio

Bubo bubo hispanus – O Bufo-real, o Senhor da Noite

O Bufo-real é uma das maiores corujas do mundo, com envergadura que pode ultrapassar 1,8 metros. Esta subespécie, Bubo bubo hispanus, é típica da Península Ibérica e impressiona pelo olhar intenso e os característicos penachos auriculares.

É um predador de topo noturno, caçando mamíferos, aves e até pequenas raposas. Prefere zonas rochosas e florestas mediterrânicas, onde o seu canto grave ecoa nas noites silenciosas. A sua presença indica ecossistemas equilibrados e pouco perturbados.

Bufo-real – o olhar que domina a escuridão

Otus scops – O Mocho-pequeno-d’orelhas, o Pequeno Guardião das Árvores

O Mocho-pequeno-d’orelhas é uma das menores corujas da Europa, medindo cerca de 19 cm. O seu nome deve-se aos pequenos “penachos” que lembram orelhas, visíveis quando está alerta. Tem uma plumagem acastanhada e cinzenta, ideal para se camuflar nas cascas das árvores.

É uma ave migratória, que passa o verão em zonas temperadas e migra para África no inverno. O seu canto suave, repetitivo e hipnótico é um dos sons mais característicos das noites de verão mediterrânicas.

Mocho-pequeno-d’orelhas – pequeno mas atento guardião das noites quentes

Athene noctua – O Mocho-galego, Companheiro das Aldeias

O Mocho-galego é uma pequena coruja diurna e crepuscular, frequentemente observada em zonas rurais e agrícolas. Com o seu olhar curioso e postura vertical, tornou-se símbolo de sabedoria e vigilância — atributo herdado da deusa Atena, que segundo a mitologia grega o tinha como companheiro.

É uma espécie adaptável, que nidifica em buracos de árvores, muros ou edifícios antigos. Alimenta-se de insetos, pequenos répteis e mamíferos, desempenhando um papel importante no controlo natural de pragas.

Mocho-galego – a sabedoria viva dos campos

🌙 O Papel das Corujas no Ecossistema e na Cultura

As corujas são predadores silenciosos e extremamente eficientes, regulando populações de roedores e insetos, contribuindo assim para a saúde dos ecossistemas. A sua visão noturna e voo inaudível resultam de uma anatomia perfeitamente adaptada à vida na escuridão.

Culturalmente, representam tanto o mistério e a sabedoria como o presságio e a proteção. Em várias civilizações, eram mensageiras entre o mundo dos vivos e dos deuses, guardiãs da noite e do conhecimento oculto.


🤔 Curiosidades

  • A Coruja-das-neves pode caçar mesmo sob plena luz solar – é uma das poucas corujas diurnas.
  • O Bufo-real tem uma força nas garras capaz de capturar presas do tamanho de uma lebre.
  • O Mocho-pequeno-d’orelhas migra até milhares de quilómetros, da Europa até à África subsaariana.
  • O Mocho-galego é uma das poucas corujas que se deixa ver em plena luz do dia.


💡Conclusão

A Família Strigidae é um retrato da perfeição natural: olhos que veem no escuro, asas que não fazem ruído, e um instinto predador equilibrado por uma sabedoria milenar. Das florestas geladas do Ártico aos campos mediterrânicos, estas aves recordam-nos a beleza e o mistério da noite.


🔗Artigos relacionados:

🦉 Família Tytonidae – O Mistério Elegante da Coruja-das-torres

Comentários

Partilha

Mensagens populares deste blogue

Armada Real Portuguesa: As Naus da Era dos Descobrimentos (1497-1647)

Armada Portuguesa: Fragatas Classe "Almirante Pereira da Silva" (1966-1992)

Ribeira Seca & Ribeira das Tainhas (Vila Franca do Campo)